domingo, 17 de janeiro de 2010

Do bendito agoureiro

Sou bendito agoureiro
das calunias do porvir.
Avulso dignitário
do que há de me convir
existente daquém posto
substrato dum belo mosto
um esmo do que vai vir.

Aqui novamente morto
vejo uma vida passar.
Preso em meu arcabouço
que não mas ira cessar.
Estendido no ataúde
a esbanjar plena saúde
para a ceifa atravessar.

Eu recluso cá comigo
donde não quero sair.
Na pior das retenções
e a mais propicia a cair
onde o recluso tem chave
e mesmo sem um entrave
ele prefere não fugir.

Pois sabe que se for
não mais retornará
do seu lado exterior
com sua vida encontrará
e não terá mais a firmeza
nem tampouco a presteza
vista no lado de lá.

Será cativo da liberdade
no orbe um corpo solto
inimigo de qualquer fera
no funesto destin’envolto
cadente da ascensão
do cataclismo da coalizão
das forças do ar revolto.

Entrego me às vontades
do que não devo fazer.
Sou mais um ser feérico
que o saber tem a dizer.
Pois se eu souber que sei
e sabendo onde passei
regozijo-me de prazer.

Relato constante ato
da minha jurisprudência.
Interajo com o agravo
de toda néscia ciência.
Sou incisivo baluarte
da força que avante parte
da completa sapiência.

Transformo o deletério
em minha felicidade.
Desfaço gotas de ódio
e de adversidade
só pra mostrar a quem
não sabe muito bem
da pura promiscuidade.

Pois não sou só mais um ser
da pelota circundante.
Me encontro no futuro
mas não este doravante
um futuro mais à frente
totalmente dependente
deste cavaleiro errante.

E lá no futuro escrevo
em toada vossa ventura
em meus versos setissílabos
vou moldando a escritura
de seres tão irrisórios
tão miúdos, só espórios
que não servem à altura.

Mas ao menos me divertem
na minha eternidade.
Acreditam no que prego
e atribuem veracidade
se ajoelham aos meus pés
e me seguem tão fiéis
sem saber toda verdade.

Não sabem que realmente
sou o bendito agoureiro.
Das calunias do porvir
do rumo do mundo inteiro.
Que faz vinho em fumaça
e fumaça em cachaça
Brincando neste terreiro.

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